segunda-feira, 18 de outubro de 2010

SWU: O sucesso do evento musical e a falsa bandeira verde


Com um publico total de aproximadamente 165 mil pessoas, 700 artistas, e um frio que chegou a marcar 10˚ C durante o período noturno, o Festival SWU, realizado entre os dias 9, 10 e 11 de outubro, na bela fazenda Maeda, na cidade de Itu (SP), deixa sua marca na historia dos festivais de musica do país com uma das maiores produções já realizadas para um evento do gênero em terras canarinhas.

Alem de um line-up estelar e diverso, que contou com representativas bandas nacionais como Los Hermanos, Os Mutantes, Otto, Cansei de Ser Sexy e Jota Quest, que se intercalaram entre nomes internacionais de peso como Kings of Leon, Dave Mathews Band, Pixies, Linking Park, Sublime e Rage Against The Machine, e uma programação eletrônica não menos chamativa, o festival também contou com um dos maiores planos de marketing já realizados no país.

Explorando como mote principal, um tema que, alem de possuir importante relevância, está em evidencia na mídia de todo mundo, a sustentabilidade, o gigante GrupoTotalCom cuidou de todo o marketing SWU de forma sagaz e eficiente. Conquistando o apoio de empresas internacionais de grande porte como Coca-Cola, Heineken, Nestlé e outras, o festival passou primeiramente a ser divulgado pela internet, onde numa estratégia de exito, conseguiram não só informar/persuadir o publico alvo (os jovens) sobre o festival - através de um web-site muito bem elaborado e redes sociais constantemente atualizadas - como com que houvesse uma grande interação com a organização do evento.

Revelando as atrações aos poucos e, compartilhando inúmeras práticas sustentáveis desde o começo de sua produção, logo passou pelas mídias impressas - ampliando sua visibilidade-, e na seqüência, também na televisão, onde inclusive atraiu posteriormente a atenção da maior emissora de TV do país, a rede globo, que além de se propor a transmitir previamente diversas reportagens sobre o evento, posteriormente televisionou alguns shows que aconteceram no palco principal.

Nesse sentido, é possível evidenciar que, com sucesso, os responsáveis pelo marketing do evento fizeram escolhas acertadas que colaboraram para que os idealizadores do SWU atingissem seus objetivos: o evento não só conquistou grande visibilidade nacional, como após ser realizado, sua organização recebeu mais de 10 convites para realizar o SWU no exterior. Entretanto, a grande contradição de toda essa ação marketeira pré-evento foi que: por terem moldado todo o conceito do festival em prol da sustentabilidade, o que pode ser visto como uma iniciativa exemplar, a organização/produção do festival pecou muito quando o festival finalmente aconteceu.


Verde?




Levando em conta palavras ditas pelo próprio idealizador do festival, o publicitário Eduardo Fisher, que a musica tinha papel secundário no SWU “porque a maior preocupação do jovem não é com a musica, e sim com o futuro do planeta”, a principio se esperava que o festival possuísse não só um modelo de campanha publicitária exemplar (que pode ser conferida nos posts virtuais), voltado para a propagação de importantes informações e ensinamentos sobre sustentabilidade, o que de fato aconteceu, mas essencialmente, que fosse proporcionada/produzida uma experiência ao publico, através do evento em si, que condissesse com tais ideais.

No entanto, apesar de uma iniciativa inovadora, um MARCO na historia dos shows no Brasil, e não se esquecendo de reverenciar as excelentes e importantes palestras e discussões que acontecerem no Fórum Global de Sustentabilidade SWU (que poderia ter oferecido mais lugares na platéia), a expressiva instalação criada pelo curador artístico do evento Eduardo Srur (que pode ser conferida clicando aqui), ou a instalação de uma roda-gigante (foto) que, funcionando com a energia gerada por pedaladas do próprio publico, ainda carregava baterias de aparelhos celulares, na prática, todo o conceito criado pelo festival - exposto durante meses na mídia - deixou a desejar quando o evento finalmente aconteceu. De modo que somos levados a nos perguntar como poderíamos levar a sério as propostas de se propagar atitudes sustentáveis quando:


  • Apesar de haver coleta seletiva de lixo nos bastidores do evento, não havia nenhuma descrição e estimulação para que o público já separasse seu lixo ao jogá-los nos locais indicados (haviam poucos latões de lixo espalhados pelo evento e nenhum que tivesse alguma distinção entre orgânicos e recicláveis, muito menos entre papeis, metáis e plásticos).
  • Não havia nenhum depósito para as bitucas de cigarro. Parênteses. Durante o período da divulgação, foi postado no website e nas redes sociais do evento informações sobre a reciclagem das bitucas, e como poderiam ser transformadas posteriormente em tecido.
  • Cobravam-se preços abusivos de:

Estacionamento: de 50 a 100 reais (por dia); Bebidas: 6 a 7 reais por uma latinha de cerveja, e só de uma marca (a do patrocinador); Comestíveis: 8 reais por uma mini-mini-pizza (de massa não orgânica), 12, no caso de um sanduiche de queijo no pão de forma, ou 6 - pelo mais vendido-, o churrasquinho de carne (que de longe possui a criação que mais agride o meio-ambiente). Parênteses. Não podia entrar com nenhum comestível no evento, e muitas pessoas tiveram de JOGAR FORA seus lanchinhos na portaria.

  • ·Alas Vip que davam gritantes privilégios aos demais como: pista demarcada a frente dos palcos principais, maior diversidade de bebidas e alimentação em espaços seletivos com menos gente circulando e áreas de descanso, campings separados e mais arborizados... Parênteses. Se os organizadores levassem realmente a sério o conceito pregado pelo marketing do evento, não teriam idealizado/produzido algo tão anti-social. Pois, mesmo que Alas Vip em eventos sejam uma triste tendência, perderam a chance de dar exemplo e propagarem uma ideologia menos desigual : mais coletiva (como de certo um mundo mais sustentável seria)
  • Ao final dos shows de cada dia, encarar uma imensa leva de lixo espalhada pelo local era comum. Tudo bem que não é só culpa da organização, mas também do publico, de qualquer forma, faltou estimulo e empenho da organização para que isso não acontecesse.





Pontos positivos

Apesar de toda contradição conceitual do festival, a experiência musical proporcionada fez jus ao prometido. Com uma boa mistura entre nomes pop com indie, pode-se dizer que correu tudo muito bem com a programação estelar dos shows escalados, tanto entre os artistas que se apresentaram nos palcos principais e no palco da radio Oi, quanto na tenda eletrônica. Nenhum


artista cancelou, a programação (artistas e horários) foi cumprida a risca, e pouco se teve problemas com o equipamento de som. Destaques para as apresentações dos polêmicos Rage Against The Machine - que há cinco anos não se apresentavam juntos -, o reencontro do Los Hermanos, os contagiantes The Mars Volta, Queens of Stone Age, Dj Erol Alkan, Kings of Leon e Cansei de Ser Sexy.


Mesmo não se propondo em apontar novos artistas (exceto por alguns nacionais graças a OiFm), assim como costuma acontecer em grandes festivais do gênero como o “Coachella” ou o "Glastonbury”, e festivais nacionais com formatos diferenciados como o “Tim Festival”, “Planeta Terra” ou “Nokia Trends”, pode-se dizer que o publico teve a oportunidade de participar de um festival musical com pouca precedência no Brasil. Realizado numa bela fazenda afastada dos grandes centros e, englobando diferentes bandas de respaldo internacional, o festival proporcionou uma experiência musical marcante aos presentes que, possivelmente recheada de aventuras e peripécias, certamente entrou pra historia dos shows no país.

Também inspirado no cultuado festival americano Woodstock, o SWU trouxe a oportunidade ao publico de entrar num clima de comunidade. Tanto quem acampou no festival, como quem enfrentou enormes filas de estacionamento e/ou caminhou kilometros em estrada empoeirada para chegar até o local do festival, provavelmente tinham objetivos em comum: se divertir, confraternizar, e ver grandes nomes da musica nacional e internacional se apresentando num festival realizado em meio a muito verde.


Balanço
Mesmo podendo ter sido ambicionado por parte da organização como um festival de musica e artes com a proposta de educar e levantar discussões sobre a importância da sustentabilidade: iniciativa tanto exemplar como providencial para o momento que vivemos, que inclusive despertou atenção do publico que acompanhou sua campanha publicitária para causa e, possivelmente alavancara novas iniciativas similares entre produtores culturais, a falta de compromisso com o conceito na execução do festival acabou transparecendo a real pretensão de seus idealizadores: ser um evento comercial. Não que isso seja errado, é claro que após tanto empenho organizando um evento, seus produtores quase sempre almejam ter algum lucro - algo tanto justo como natural. Entretanto, como na execução do evento em si demonstraram dar maior estima em atrair o publico para consumir à que produzir uma experiência a um público que supostamente quisesse: além de assistir ao vivo os shows de suas bandas favoritas, se conscientizarem sobre o assunto que o festival diz ter se proposto (algo que o festival Natura Nós fez muito melhor), ficou evidente que a preocupação com o lucro, assim como a imagem que o festival teria na mídia, acabou passando por cima da seriedade a ser dada na execução de um evento que transparecesse e evidencia-se o compromisso em educar os jovens sobre sustentabilidade.
Criticas a parte...
O festival não deixou de ter proporcionado uma experiência divertida, interessante, e de raríssima precedência similar no Brasil. Um festival de musica que que uni mais de 150 mil pessoas e que agregue tantas atrações como as que participaram do SWU, certamente não se realiza com facilidade. Seja pra curtir, pra experimentar e/ou mesmo pra criticar pro "bem ou pro mal", o publico que foi ao evento certamente lembrará da experiencia por bastante tempo.

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