Espetáculo “Use o assento para flutuar”, apresentado na última quinta (28) em São Paulo, revela novas expressões da dança contemporânea no Brasil.
Angustiante, intenso, reflexivo, inusitado, e, porque não, engraçado, são algumas das várias formas possíveis de definir a apresentação solo: “Use o assento pra flutuar”. Criada, dirigida e interpretada por Naiá Delion.
A impressão ao assistir o espetáculo, que faz parte do projeto “Outros Passos” realizado no teatro do SESC Pompéia, em São Paulo, pode ser a de estar observando um quadro de Edvard Munch, mas “vivo”. E obviamente por esse não ser um quadro, e sim um espetáculo com uma pessoa cheia de sangue nas veias o apresentando - tem movimento -, e assim como no quadro mais celebre de “Munch” (“O Grito”), a expressão da interprete durante apresentação é às vezes silenciosa, às vezes gritante.
Por meio de díspares expressões corporais e um enredo abstrato, o espetáculo pode ter múltiplas interpretações, ou seja, trata-se claramente de uma “obra aberta” - terminologia conceitualizada por Umberco Eco para justificar a incorporação da ambiguidade no processo de criação das obras de arte contemporâneas. Pode-se dizer também, que o espetáculo tem muitas características do conceito “Dança-Teatro”, já que a intérprete não apenas dança, mas também atua em vários momentos.
Um tanto autobiográfico, o espetáculo traduz uma busca confrontante da idealizadora em criar expressões artísticas que dessem voz à uma passagem de sua vida. Naiá:“Criar uma organização a partir de métodos previamente conhecidos mostrou-se uma estratégia impossível de ser seguida”, e como resultado, foram apresentados trechos de uma intensa e inconstante travessia da personagem, em que, diga-se de passagem, muitos de nós podemos nos identificar cada um a sua maneira.
Oscilando entre estados calmos, depressivos, caóticos e libertários, a ansiosa e conturbada personagem vai esboçando sua busca em reproduzir seus sentimentos e anseios, representando então, conflitantes nuances da eterna busca em: ser.
Como existem momentos de extrema agitação e expressão e de repente ocorre uma paralisação e silencio total (vale ressaltar aqui o equilíbrio de Naiá em sua atuação), o publico é inevitavelmente contagiado pelas emoções da personagem, com sensações que vão da tensão, ao riso.
Enfim, sem plumas e nem paetês e extremamente vanguardista, com movimentos de dança abstratos e muito expressivos, que, às vezes acompanhados de pequenos ruídos emitidos pela personagem, emocionaram o público presente - o ousado, questionador e dotado de uma inovação pungente “Use o assento para flutuar”, é, no mínimo uma obra instigante e libertadora que tem a cara da arte contemporânea.

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