quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Les Amours Imaginaires (2010)

Depois de ganhar reconhecimento ao abordar a complexidade do amor familiar em "Eu Matei Minha Mãe", Xavier Dolan, cineasta canadense de apenas 22 anos, faz parodia a juventude apaixonada em  "Os Amores Imaginários".



Iniciando o longa com a exposição da frase "A única verdade é o amor para além da razão", a historia gira em torno dois personagens principais, o romântico Francis (Dolan), e culta e carente Mari (Monia Chokri), grandes amigos até o aparecimento do belo Nicolas (Niels Shineider), charmoso rapaz recém chegado do interior por quem se apaixonam subitamente. Ambos o conhecem juntos numa festa na casa de amigos, e logo se tornam inseparáveis.

Retratando a juventude contemporânea e seus estereótipos para abordar as sinuosidades desse sentimento tão controverso e intenso que é a paixão,  Xavier ainda intercala à historia uma espécie de documentário fictício, onde expõe cenas de interrogatórios "plus" confissões e projeções pessoais sobre o "objeto" de desejo de dispares personagens.

Com grande talento em criar/desenvolver cenas poéticas e delicadas, a estética e o ritmo do filme, aparentemente inspiradas na atmosfera de filmes como "Le Mepris" de Jean Luc Godard, e "Os Sonhadores" de Bertolucci, remetem por vezes a um clima de sonhos, onde filtros de luzes, câmera lentas e cenários simplistas, porém milimetricamente pensados, dão aroma lúdico.

Mesmo que por um lado o filme contenha diversas cenas e diálogos em que o espectador pode, independente de sua idade, classe ou cultura, se identificar com os assuntos e sentimentos melancólicos expressados na tela, por outro, o filme não chega a ser dramático, mas sim um esboço irônico de paixões e projeções não correspondidas.


...a pergunta que fica:
"Tem diferença entre paixão e projeção?"



Segue abaixo o trailer do filme + critica:





Critica:

Por mais belo e poético que "Os Amores Imaginários" seja, faltou originalidade no enredo para que Dolan tivesse o reconhecimento esperado. Não que o filme não seja muito bem trabalhado e aborde questões interessantes com certa profundidade, no entanto, a falta de um drama mais singular para as aventuras e desventuras amorosas vividas pelos personagens, que apresenta obvia similaridade com roteiros de clássicos do cinema cult, deixou seu segundo filme a desejar.

Grandes diretores costumamente se inspiram no trabalho de outros na elaboração dos próprios, vide Betrolucci e suas referências à "Jules e Jim" (Truffaut), em "Os Sonhadores. Mas, por mais que "Os Amores Imaginários" retrate questões atemporais como conflitos e projeções de seres humanos apaixonados, possua uma roupagem mais contemporânea e contenha cenas lindas e de expressividade poética relevante, soa mais como um emaranhado de referências a filmes de diretores como Godard,  Wong Kar Wai, e os próprios Bertolucci e Truffaut, do que um filme que agregue referências filmicas, mas com uma perspectiva nova e peculiar.

Outro ponto controverso são os excessos. Desde "Eu matei minha Mãe", Dolan demonstrou grande talento estético no seu trabalho, entretanto, em "Os Amores Imaginários" ocorre um abuso no uso de alguns artifícios como a câmera lenta, filtros de luzes, entre outros, que acaba por comprometer a intensidade da magia poética gerada quando utilizados apenas em cenas especificas, ou mais espaçadamente. Talvez o resultado do projeto teria mais brilho se dividido em trechos, e lançado como uma serie de curtas que homenageasse seus ídolos, ou até mesmo, seu amor pelo cinema.

De qualquer forma, mesmo que seu segundo filme não tenha sido tão brilhante como o primeiro, é importante lembrar que Dolan ainda tem 22 anos, e ao que tudo indica, um futuro enorme pela frente. Seu talento tem agradado não só parte da crítica, como ainda deverá render muitos frutos aos amantes da sétima arte.

Curiosidade: O filme ainda conta com a participação especial do muso francês Louis Garrel.

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